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Foto do escritorJorge Barros

13 de Maio: Um dia a não ser comemorado

Atualizado: 25 de jun. de 2020

Dia 13 de Maio, da chamada Lei Áurea ou da Abolição da Escravatura, é uma data que não merece ser celebrada. Isto por alguns motivos: primeiramente, porque o protagonismo não é dado ao negro, pois o evento é visto como um suposto ato de bondade de uma princesa branca, Isabel, a fazê-lo em prol dos negros. Em segundo lugar, porque não era, de fato, em prol dos negros. As reais motivações e intenções não estavam relacionadas a beneficiá-los. Antes, à pressão sofrida pela competitividade econômica nacional e, principalmente, internacionalmente, o que foi tornando insustentável a manutenção do modelo escravo, independentemente da real vontade da princesa.


Por que é possível afirmar que a abolição não tinha como motivação o favorecimento dos negros? Por que não foi feita nenhuma medida protetiva. A escravidão formal acabou de um dia para o outro. E então os negros, totalmente desprovidos de recursos financeiros, sem patrimônio, sem dinheiro, sem moradia, sem acesso à educação ou formação, simplesmente não receberam nenhum incentivo financeiro ou previdência ou proteção social ou qualquer coisa que fosse. Nadinha! Foram praticamente soltos às ruas, vivendo às margens da sociedade, mesmo tendo passado mais de três séculos sob regime escravo. Além disso, a instituída Lei Terra impossibilitava que negros obtivessem direito a propriedades através de seu trabalho. Assim, não podiam plantar e prosperar. Bem, mas podiam trabalhar nas terras dos outros, afinal, o trabalho braçal, anteriormente feito como escravos, agora, poderia ser feito na condição de empregados contratados, certo? Errado! Inviabilizaram empregos aos negros, pois a elite branca preferiu trazer mão de obra barata da Europa a partir do início do século (muitos de nossos bisavós espanhóis, italianos, alemães), tanto para trabalharem quanto também (pasmem!) para que estes ajudassem a embranquecer a população. Sim, acreditava-se que poderíamos ser mais prósperos a partir de uma miscigenação e do branqueamento das peles. Não bastasse a desigualdade econômica, foi também um período de muita violência e estupro. Se não fosse graças a uma absurda força própria, os negros jamais teriam conseguido ir, aos poucos, se libertando por sua forma de ciência social e organizacional, fazendo surgir os Quilombos e guerreiros que até hoje estão em seus corpos lutando por reparação histórica - étnica, social, política e econômica.


Mas a reparação está longe de ter sido alcançada. Todo esse contexto de injustiça social deixou uma dívida que ainda não foi paga até hoje. Por este motivo, vale a pena ter essa data na memória. Não para celebrar ou comemorar. Mas para nos lembrarmos que temos que pagá-la, como sociedade. E todos nós podemos e devemos lutar para que sejam feitas medidas compensatórias. Se você não é negro e não tem lugar de fala, pode apoiar a luta de diversas formas. Uma delas é reconhecendo as diferenças. O que isso significa? Sabe aquelas coisas que são ditas como: "Ah... mas, pra mim, somos todos iguais, não vejo cor de pele. Somos todos da raça humana."? Apenas pare! Não repita mais isso. Por quê? Porque o primeiro passo para respeitar e valorizar, de verdade, a diversidade, é reconhecer as diferenças. Se você não reconhece as diferenças e finge que somos todos iguais, além de não valorizar o que o outro tem de diferente, também não vai conseguir enxergar sua posição que, eventualmente, pode ser de privilegiado. Outra forma de apoio que você pode dar é contribuir para o fortalecimento de políticas que incentivem o acesso e a inclusão no ambiente onde você está inserido. Daí a importância de políticas afirmativas, como, por exemplo, sistemas de cotas. Políticas afirmativas são mecanismos temporários para correção de injustiça de forma transitória, para dar oportunidades a populações historicamente excluídas da sociedade. Não devem durar para sempre, mas é um começo necessário e importante para que, aos poucos, não seja mais necessário.


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