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  • Foto do escritorJorge Barros

Coronavírus: o espelho refletindo o retrato de nossa sociedade

Era janeiro de 2020, estávamos prestes a lançar a Fator Diversidade no mercado. Sabíamos qual modelo de negócio queríamos. Sabíamos quais serviços e como queríamos promovê-los. E sabíamos quais diferenciais queríamos que esta nova marca exercesse para promover impacto social de verdade. Então, chegou um momento no qual nossa discussão estava em torno de nossas crenças e motivações pessoais. Eu provoquei o grupo com muitos porquês: Por que queremos fazer este serviço? Por que acreditamos que promoverá impacto de verdade? Por que nós? Quais as crenças e motivações estão por trás disto?


Recebi um bombardeio de respostas e teve uma delas que, acredito, resumiu muito bem o que estava por trás do todo: porque acreditamos que existe uma grande coletividade cheia de intenções positivas que, ao se reconectarem com elas mesmas e com sua essência e, além disso, se conectarem também com outros seres que compartilham destas intenções, descobrirão o poder de transformação, para um mundo melhor para todos, mais humano e mais inclusivo. Talvez não tenham sido exatamente com estas palavras, mas a íntegra você encontra na página inicial de nosso site porque, assim que lançamos o negócio, fizemos questão de dedicar um item da página (O que nos move) para manifestar o que sentimos e como nos enxergamos no mundo.


O que não imaginávamos é que presenciaríamos, logo em seguida, um evento catastrófico de escala global provocado pelo chamado Novo Coronavírus. Claro que, para nós, assim como para qualquer outro empreendedor e qualquer outro negócio, o impacto é negativo por sabermos que teremos, inevitavelmente, uma lentidão para geração de novos projetos, uma vez que trabalhamos a inclusão de pessoas em grupos de trabalho e, muitas vezes, isto demanda reuniões e eventos dentro das empresas contratantes para promover a proximidade e um melhor convívio em grupos diversos. Não podemos arriscar e precisamos recuar para preservar a saúde de todos. Também é, logicamente, frustrante, ter um momento de recuo na economia justamente no momento em que estávamos lançando nosso novo negócio no mercado.


No entanto, temos utilizado nossos momentos de reunião (a distância, é claro) também para refletirmos sobre tudo o que está acontecendo. As reflexões passam por diferentes vertentes: além da óbvia preocupação que temos com aqueles que não são incluídos e se veem à margem da sociedade, às vezes nos pegamos preocupados também com aqueles ao nosso redor, como, por exemplo, amigos, parceiros e pessoas com quem trabalhamos, empresas onde trabalhamos no passado e como podem estar nossos ex empregadores e amigos de lá, colegas que atualmente fazem trabalhos freelas ou autônomos, entre outros. Obviamente, nos preocupamos com cada um deles. E tiramos um tempo para pensar na parcela mais fragilizada da sociedade e em que tipo de contribuições ou ajudas podemos fazer a estes, como grupo, neste momento. E até mesmo falamos sobre nossos sentimentos pessoais ou sobre como estão as coisas em casa, com nossos familiares.


Diante de tantas imagens tristes que temos visto, é também impressionante a quantidade de boas ações, boas energias, vibrações e boas intenções que temos presenciado, no Brasil e no mundo. Você também já deve ter visto muita coisa do tipo, mas, se ainda não viu, temos aqui um exemplo no site da Razões para Acreditar, que reuniu uma grande quantidade de prestadores oferecendo seus serviços gratuitamente a quem precisa. E também notamos centenas de outros exemplos individuais, como de moradores de condomínios se prontificando a fazer compras a seus vizinhos idosos. É como se, apesar de termos nos lançado ao mercado num momento de crise, ao mesmo tempo, estivéssemos constatando que, de fato, tínhamos razão (ou pelo menos não estávamos loucos) quando resolvemos criar e investir em um negócio por acreditarmos que, "no mundo, há uma grande coletividade cheia de intenções positivas". Alguns poderiam achar que é bobagem ou fantasia, afinal, são tantas notícias ruins, são tantas pessoas tentando se aproveitar umas das outras ou, na melhor das hipóteses, se não estão fazendo o mal, também parecem não se importar com a desigualdade e falta de oportunidades para inclusão. Fomos acostumados a presenciar notícias negativas em grande volume sobre os malfeitos da sociedade. Agora, estamos vivendo um momento onde, na dor, as pessoas têm demonstrado se importar mais umas com as outras e estão voltando à sua essência, de intenções positivas.


É claro que isso não significa ainda inclusão social e muito menos é sinônimo de igualdade de classes. Ao contrário, nunca esteve tão evidente a desigualdade. Chega a ser irônico ouvirmos, o dia todo, recomendações para ficarmos em casa, sendo que 33 milhões de pessoas não têm onde morar no Brasil. Isso equivale a 6 milhões de famílias. A desigualdade está aí, sempre esteve. A diferença é que, agora, ficou claro a todos que não temos como viver em uma bolha. Não há como se isolar e o problema do outro é também o seu problema. Sempre foi. E sempre deveria ter sido visto desta forma, mas agora ficou escancarado, finalmente. E isto fez com que, de imediato, todas as pessoas cheias de intenções positivas que, muitas vezes, não sabiam como dar vazão ou para onde direcionar estas energias e motivações estão, agora, se encontrando, se conectando entre elas e isso fortalece a cada um como ser humano e também ao coletivo. Além destas manifestações de indivíduos e grupos, temos notado que este evento tornou urgente o mundo todo discutir novas políticas de proteção e inclusão social. Em artigo publicado hoje pela ONU, relator pede que seja adotada renda básica universal e proteção aos mais fragilizados economicamente. Pede-se que os interesses da população se sobreponham a interesses econômicos e políticos. Que excelente oportunidade para revisitar o modelo econômico de todo o mundo.


Não se trata de romantizar uma pandemia. Não há nada de bonito nem no vírus, nem na doença por ele provocada e, muito menos, na desigualdade social do Brasil. Mas a positividade, que tem a ver com as respostas que damos aos problemas que vivenciamos, deve levar-nos a novos patamares. Apesar da circunstância, estas atitudes e posturas podem ser um grande e importante primeiro passo - de muitos outros que precisaremos dar - rumo a uma nova sociedade. Sabemos que nem todos são regidos por boas intenções, mas acreditamos que a maioria é. E também acreditamos na capacidade de transformação daqueles que ainda não se enxergam como parte do coletivo. É a isto que estamos nos atentando: ao comportamento das pessoas e suas intenções ao darem respostas tão positivas diante de um evento tão negativo.


Por conta disso tudo, a preocupação com o nosso negócio ou com a possível frustração de seu lançamento se tornou menos importante. A verdade é que nós da Fator Diversidade, assim como qualquer dono ou líder de negócio social ou de impacto social, têm metas com métricas reversas. O que isso quer dizer? Um fabricante ou vendedor de calçados vai torcer para que aumente, cada vez mais, a demanda por pessoas que queiram ou precisem usar sapatos, afinal, ele quer vender cada vez mais sapatos. Já o ambientalista ou responsável por uma ONG de proteção ambiental vai ficar feliz justamente se sua demanda diminuir. Se, no futuro, as pessoas estiverem ecologicamente tão conscientes a ponto de não haver mais necessidade de fiscalização ou ações de incentivo à proteção ao meio ambiente, pode apostar que os líderes de suas ONGs e ambientalistas estarão completamente felizes. Nós da Fator Diversidade também torcemos para um futuro tão inclusivo e tão diverso, a ponto de que nosso serviço, no formato como ele é hoje, se torne irrelevante ou quase desnecessário. Quem sabe no futuro a sociedade esteja tão transformada, tão diversa e tão inclusiva, que, ao invés de programas para sensibilizar da necessidade e para transformar organizações em espaços inclusivos, possamos dedicar nosso tempo a outras iniciativas e projetos sobre como inovar ou potencializar ainda mais os resultados para as pessoas e organizações através de times que já são diversos e empresas que já são inclusivas.


E você, que outras boas ações ou intenções tem percebido por aí? Ou qual contribuição acredita que você mesmo pode dar a outros?



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