Escrevo principalmente para nós, pessoas brancas que, não apenas somos os criadoras deste grande problema e mal social chamado racismo, como também, a partir de nossos privilégios, devemos nos sentir as principais responsáveis por resolvê-lo e combatê-lo utilizando aquilo que temos como ferramentas.
O convite que faço é para que cada um instale dentro de si mesmo um sinal de alerta, um recurso interno que sirva de dispositivo. Um alarme que toque cada vez que uma situação de racismo acontecer diante de nós O convite é parar de relativizar. Parar de dizer "Mas será que é pra tanto? Precisava de tudo isso? Não é um exagero?" E como é que a gente faz para estar atento aos sinais de uma possível relativização? Veja algumas frases clássicas ou típicas que costumam ser ditas quando há a tentativa de relativizar ou diminuir a gravidade de uma cena de preconceito racial:
"No meu tempo, as pessoas não eram assim. Hoje é tudo mimimi."
Sim, antigamente as coisas eram diferentes, até mesmo porque as décadas passadas ainda eram vizinhas do período da escravização. Quanto mais tomamos distância daquela época de atrocidades, mais consciente ficamos do quanto aquilo tudo era horrível e desumano. Se algo fere outra pessoa, não deve jamais ser diminuído ou chamado de mimimi. Não podemos dizer que a dor não existe apenas porque não é em nós que ela dói.
"Como pode me chamar de racista, se sou descendente de pessoas negras?"
Embora o racismo seja um problema criado por pessoas brancas, como bem diz Djamila Ribeiro, infelizmente, foi naturalizado durante tanto tempo pela sociedade, que até mesmo pessoas pretas, pardas e outras afrodescendentes podem reproduzir piadas ou falas preconceituosas sobre sua própria raça. Portanto, falas e atitudes racistas podem, sim, ser reproduzidas por afrodescendentes, assim como falas e atitudes machistas podem ser reproduzidas por mulheres, bem como falas e atitudes homofóbicas podem ser reproduzidas por pessoas LGBTQIA+.
"Mas o que vale não é a intenção?" As motivações e intenções têm, sim, seu valor. Aliás um grande valor! Aqui na Fator Diversidade, temos a crença de uma grande coletividade cheia de intenções positivas, ou seja, acreditamos que a maior parte das pessoas que compõem a sociedade possuem boas intenções. Estas, no entanto, podem falhar ou até mesmo ofender alguém sem esta intenção. Tanto acreditamos no valor das boas intenções, que temos a certeza de que, nestes casos, em muitas vezes, fica mais fácil ajustar o comportamento na própria relação. Quando uma pessoa confia na outra e acredita em suas boas intenções, ela não hesita em alertar, pontuar, corrigir, se necessário. Por outro lado, a outra parte, quando bem intencionada, naturalmente vai demonstrar interesse em acolher o alerta, reconhecer seu erro e corrigir sua postura. Mas veja: não basta ter boas intenções. É preciso reconhecer o erro, ou seja, se desculpar e, imediatamente, mudar, corrigir e ter uma nova postura, um novo comportamento. Isto significa não incorrer novamente no mesmo erro. Não acreditar que pode continuar o cometendo, visto que a intenção não era má. "Não importa a cor. Somos todos iguais. Somos raça humana." Certamente, somos raça humana do ponto de vista biológico. Mas, socialmente, existe, sim, a diversidade racial. Aqui no Brasil especificamente, temos cinco fenótipos, segundo o IBGE: Branco, Amarelo, Indígena, Preto e Pardo, sendo que pessoas Negras são a somatória de Pretas e Pardas. Ao invés de dizer que somos todos iguais, entenda que somos diferentes. Por que isto é importante? Em primeiro lugar porque, enquanto não reconhecemos as diferenças, somos incapazes de percebermos e admitirmos nossos privilégios brancos. Em segundo lugar porque, se não reconhecermos as diferenças, não conseguimos valorizá-las. É importante reconhecer e respeitar para, então, valorizar aquilo que a outra pessoa tem de diferente de mim.
Dicas antirracistas: Além de estar alerta para não naturalizar ou relativizar o racismo, seja um agente antirracista. Independentemente da cor de sua pele, você apoia a luta antirracista quando: - Defende políticas afirmativas, como, por exemplo, sistemas de cotas educacionais que são instrumentos temporários ou provisórios de reparação histórica.
- Contribui para promoção ou geração de empregos, inclusive em cargos de lideranças, para pessoas negras.
- Atenta-se à presença equilibrada de pessoas negras nos ambientes onde frequenta, como trabalho, eventos e outros.
- Consome produtos, serviços e, principalmente, cultura e conteúdo de pessoas negras, como livros, artigos, arte e poesia (a Fator Diversidade possui, em seus canais, como redes sociais, diversas dicas de autores e autoras negros e negras).
- Pesquisa, estuda e busca aprender a cada dia sobre o assunto.
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