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  • Foto do escritorJorge Barros

O dia que o colapso econômico chegou no Brasil

Atualizado: 26 de jun. de 2020



Algo se alastrou causando devastação em várias partes do mundo. Não tivemos escapatória, nem passamos ilesos. Um dia chegou também ao Brasil, diretamente da Europa, causando sofrimento e dor. Já ceifou muitas vidas diretas e, mais que isto, impacta a economia do País de tal forma que tem o poder de causar milhões de outras mortes indiretas. Se você não está preocupado com o colapso econômico do Brasil, é porque, certamente, não se deu conta da gravidade que vivemos. Imagine uma pessoa sendo impedida de simplesmente exercer seu direito de existir, de ir e vir, de trabalhar de forma digna para o seu sustento e de sua família. Agora imagine um cenário onde milhões de pessoas passam por isso. E pior: elas tentam avisar, alertar e são ignoradas. Muitos acham que suas reivindicações não são urgentes e podem esperar. Conseguiu imaginar o cenário? É desesperador. Este cenário é real e a data que o colapso econômico se instalou no Brasil é antiga, embora você talvez só esteja percebendo agora.


Não, não me refiro à chegada do Novo Coronavírus, que também trouxe devastação. Refiro-me à invasão que chegou ao Brasil há 520 anos, vindo de barco, não avião. Acostumamo-nos a chamar de conquista algo que, na verdade, foi uma grande invasão que se apropriou de terras alheias, roubando e demarcando territórios às custas da morte de habitantes nativos. Foi nestes moldes que se deu início à economia no País. Os primeiros ricos, proprietários e donos de patrimônios, nada tiveram de meritocracia. Não compraram nem pagaram por nada, se apropriaram. Também não precisaram trabalhar. Construíram pelas mãos de negros escravizados. Foi o início do tráfico no Brasil, trazendo pessoas roubadas da África para fazer, sem remuneração, o trabalho braçal por aqui. Até hoje, boa parte do patrimônio dos herdeiros de grandes ricos do Brasil, em sua maioria descendentes de europeus e estrangeiros, é fruto destas "conquistas".


Por outro lado, mais de 12 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza no País. Mais de 5 milhões ainda passam fome e, em média, 15 pessoas morrem de desnutrição por dia no Brasil. Isso significa quase 6 mil mortes por ano. Não são números assustadores? São estas as pessoas que estão sendo impedidas de exercerem seu direito de ir e vir, em busca de seu sustento com dignidade, há séculos. Se você ainda não tinha se dado conta da urgência e importância de incluir todos no sistema econômico, talvez agora tenha uma grande chance de exercer a empatia. Calce estes sapatos! Neste momento, onde tantos de nós estamos também nos sentindo ameaçados por não podermos sair para trabalhar ou tocarmos nossas empresas, podemos tentar sentir em nossas peles aquilo que milhões de pessoas sentem nas delas por anos. Estamos falando de vidas perdidas, de pessoas que morrem por não conseguirem fazer parte. Qual a chance de um modelo econômico injusto como este dar certo? Se não é para todos, já fracassou. Mais cedo ou mais tarde, este colapso iria explodir porque é insustentável.


A função da economia deve ser servir à sua sociedade. E não a sociedade viver para sustentar a economia. O que isso quer dizer? Economia, por definição, estuda produção, distribuição e consumo, ou seja, a relação entre as necessidades do homem e os recursos disponíveis. Mais do que produzir riqueza, a economia deve fazer a riqueza ser distribuída entre as pessoas que compõem sua sociedade. Quando se fala de economia, a gente logo lembra PIB, IPCA, Selic, mas existe um indicador econômico pouco falado no Brasil, conhecido como Índice de Gini, que é o coeficiente utilizado para medir a desigualdade. No Brasil, a concentração de renda e desigualdade são gritantes. O País está, atualmente, no topo do ranking de países mais desiguais do mundo. Segundo a Forbes, os 200 bilionários do Brasil, juntos, acumulam um total de 1,3 Trilhão de Reais. Com este valor é possível sustentar o salário de mais da metade da população do país inteiro.


Estou dizendo que é errado ser rico? De forma alguma! Estou dizendo que todos precisam ganhar igualmente? Também não. É possível valorizar e reconhecer de forma diferente esforços diferentes? Sim, é! Mas é preciso que todos sejam incluídos e tenham direito a buscar seu sustento, garantir seu consumo e crescimento. E por que não é possível que pessoas desfavorecidas simplesmente se esforcem para crescerem também? Porque, matematicamente, essa conta não fecha nunca. Em um modelo que favorece juros e rendimentos, como ocorre no Brasil, quem é muito rico consegue fazer seu dinheiro se multiplicar sozinho, sem esforço e sem precisar ser produtivo. Basta investir bem. Ocorre que a quantidade de dinheiro na País é finita. Se o dinheiro não é infinito e tem uma pequena parte da população que faz seu dinheiro aumentar automaticamente, com certeza, em alguma outra parte do País, este dinheiro está diminuindo e faltando cada vez mais. Através de um sistema de juros exorbitantes, o sistema virou uma máquina que retira dinheiro de quem menos tem para sustentar o rendimento de quem já tem demais (dizem que, se conselho fosse bom, não se dava, mas aí vai um: pense bem antes de gastar seu tempo indo a palestras de famosos bilionários que prometem ensinar como ficaram ricos. Não acredito que eles possam te contar a verdade).

Mas vamos usar a lógica. Para que mais pessoas tenham acesso à renda, é importante gerar mais empregos, certo? Certo! E, para gerar mais empregos, é preciso que as empresas cresçam e sejam saudáveis, certo? Certo! Assim, ganhando mais, elas conseguirão contratar mais pessoas, certo? Errado! É justamente este o problema do atual modelo econômico. Ele mede o sucesso das empresas através do lucro. Por esta ótica, aumentar o número de funcionários pode significar aumentar custos e, consequentemente, diminuir lucro. Em 2019, por exemplo, o setor mais lucrativo do País aumentou seus lucros bilionários em 18% e, no mesmo ano, extinguiu mais de 10 mil postos de trabalho. Estou dizendo que as empresas são vilãs? Não! Estou dizendo que empresários são malvados? Não! Ao contrário, até hoje estou aqui graças às empresas com as quais me relacionei em trocas de trabalho. Agora, também sou apenas mais um empresário iniciante cheio de vontade de crescer e trazer mais gente para trabalhar junto. Não existe nada de errado nas empresas que lucram. Meu convite de reflexão é sobre a política econômica do País e uma análise crítica sobre ela.


E qual a solução? A reflexão está aberta a todos. Alternativas podem variar desde remodelagem dos custos políticos e públicos, até à desburocratização às empresas e (por que não?) um modelo que potencialize ainda mais os incentivos financeiros a quem gera mais empregos ou transforma mais a sociedade. O mundo mudou. As pessoas mudaram. Inevitavelmente, as empresas e a economia vão precisar acompanhar esta mudança. Cada vez mais, funcionários e consumidores querem estabelecer relação com empresas e marcas com as quais veem conexão de propósito, valores e causas. Já passou da hora de as empresas encontrarem outras métricas para calcularem seu sucesso, que não sejam apenas faturamento e lucro. É chegado o momento de perceber que o impacto de cada empresa no mundo e na sociedade vale muito também. E ouso dizer que sinto que grande parte das empresas - que, afinal, são um conjunto de pessoas e não de prédios - também anseia gerar novas contribuições ao mundo. Um incentivo do sistema econômico apenas seria o propulsor de uma mudança benéfica a todos. E se a gente pudesse esquecer tudo que já nos foi apresentado (capitalismo selvagem, comunismo ditatorial, socialismo utópico) e começasse do zero, com liberdade para inovar? Deve haver um caminho do meio, um equilíbrio onde todos ganhem. Busquemos a harmonia e a inclusão econômica.


Ah... sobre a atual pandemia, o conselho mundial é: SE PUDER, fique em casa. Ou seja, nem todos podem. E não cabe senso de julgamento a nenhum de nós. Há pessoas que não podem deixar de sair para trabalhar, seja por fazerem parte do serviço essencial ou por dependerem do trabalho do dia para o sustento do próprio dia. E há quem se esforça para ficar em casa, deixando de ganhar financeiramente no momento. Seja a qual destes grupos você pertença, é importante que ambos os lados estejam unidos em uma luta: mudar o sistema econômico para que ninguém tenha que escolher entre morrer por falta de ar ou por falta de dinheiro. Isto nada mais seria do que um novo modelo de escravidão. Não caia na falsa ilusão de que é necessário "salvarmos a economia", voltando rapidamente à rotina normal. A economia nunca esteve salva e o que vivíamos não era normal. Quando tudo isso passar, não podemos ser como éramos antes.



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