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Foto do escritorVivi Yamaguti

Sobre Olhos Puxados e a Pandemia


A pandemia pela qual estamos passando agravou uma série de diferenças já existentes no mundo, colocando um holofote nas desigualdades gritantes que impactam o dia a dia e a vida das pessoas, de forma avassaladora. Além das questões políticas e econômicas, uma vez tendo seu primeiro foco na China, uma das diferenças por ela intensificadas e levadas ao extremo é a questão Oriente x Ocidente. Ataques violentos a cidadãos de descendência oriental (não somente chineses, mas japoneses, coreanos, dentre outros) tornaram-se frequentes em países como França, Reino Unido, Estados Unidos e outras localidades, colocando em discussão a discriminação contra o estrangeiro por conta de suas características físicas, origens e costumes culturais e sociais, bem como a questão da personificação de algo percebido como ruim, prejudicial e/ou ameaçador (neste momento, representado pela pandemia, mas geralmente representado por tudo aquilo que é diferente), como forma de dar vazão a sentimentos como medo, insegurança, impotência, raiva, revolta etc.


Estes episódios trazem à tona velhas discussões sobre atos de xenofobia que sempre estiveram presentes ao longo da história. Diferentemente dos impactos trazidos pelo racismo estrutural que exclui grupos minorizados concentrando oportunidades em determinados grupos e que, portanto, torna-se algo prioritário a ser trabalhado para gerar a transformação que temos acompanhado nos últimos anos, os impactos de atos decorrentes da xenofobia podem acabar diluídos por facilmente se integrarem a outras realidades como, por exemplo, homens e mulheres brancos pertencentes a classes sociais mais favorecidas como é o caso dos orientais, em sua grande maioria. Por esta razão, é possível que se leve mais tempo para a tomada de consciência sobre seus impactos, que vão se acumulando, em maior ou menor proporção, e refletindo em questões relacionadas especialmente à identidade e auto-estima e em casos mais extremos, à segurança e integridade física. No caso dos orientais, existem desde vieses que podem ser vistos somente como positivos por ressaltarem a inteligência, responsabilidade, resiliência e integridade atribuídas a eles, porém que generalizam individualidades e trazem uma enorme pressão por perfeição (lembrando que Japão, China e Coréia do Sul integram a lista de países com maior índice de suicídio na maior parte dos anos em que o ranking é atualizado), até àqueles que ofendem e diminuem, como a homogeneização devido às semelhanças físicas e à associação de temas exacerbadamente sexualizados e submissos a mulheres orientais (os recentes episódios de ataques a Spas em cidades americanas são um exemplo claro deste viés) - questões importantes a serem refletidas e postas em discussão quando falamos sobre Diversidade & Inclusão e a base fundamental do respeito a cada ser humano, sua história, sua individualidade, suas raízes para que cada um possa se desenvolver e contribuir com suas potencialidades de forma integral, saudável, livre e segura.


Atualmente, olhos puxados têm sido vistos, em muitos lugares, como sinônimo de perigo, de um inimigo ao qual se deve combater, como se fosse possível erradicar a pandemia por meio de um ato de agressão. Como se essas pessoas fossem imunes a ela e não estivessem também, como a maioria de nós, tentando lidar da melhor forma possível com este momento, com os recursos disponíveis, interna e externamente, aprendendo diariamente. Como se falássemos de lados opostos quando, na verdade, o que parece ser a grande mensagem trazida por esta pandemia, é justamente a importância de fortalecer, acolher, ajudar, se unir. Ações que independem de qualquer diferença que possa existir, mas sim, que nos aproximam na condição de seres humanos. Que possamos evoluir nesta pauta cada vez mais e ressignificar as diferenças de forma positiva após tudo isso que estamos vivendo.

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